A Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 241, que tem como objetivo limitar os gastos públicos
pelos próximos 20 anos, vai representar um grande impacto na vida do
funcionalismo público em geral, com congelamento de reajustes até desestímulo à
entrada de mais pessoas no serviço público. Entidades de classe apontam que
pode representar um golpe mortal na categoria como um todo.Coordenador adjunto
da graduação de Economia do Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais no Rio
de Janeiro (Ibmec-RJ), Ricardo Macedo (foto) aponta que durante um bom tempo, o
servidor poderá não perceber aumento real de salário, uma vez que o
congelamento de gastos públicos impedirá que esses reajustes sejam concedidos.
O que ele acredita que ocorrerá normalmente será apenas reposição da inflação
sobre os salários.
“Não devem ocorrer mais
aumentos, apenas a reposição da inflação. Além disso, não deveremos ter
concursos públicos, a não ser para repor vagas de quem está se aposentando. Os
processos de contratação ficarão mais raros”, diz.
Ele explica ainda que o
concurso público passará ser procurado efetivamente por quem deseja atuar no
setor e não deverá mais atrair pessoas que buscam somente a garantia da
estabilidade. “Tudo será rediscutido”, prevê.
PEC 2Interesse menorO advogado Jerson
Carneiro, especialista em Direito Administrativo e sócio do escritório Fortes
& Carneiro, diz que a PEC poderá fazer uma triagem sobre quem se interessa
em trabalhar no setor público e os que não têm interesse. “Qual país em que
metade da população prefere fazer concurso? Vai afetar essa procura”, aponta.
PEC 3Revisão das pensões
Carneiro
diz ainda que a PEC pode ter o mérito em colocar o Brasil em outros rumos pois
deve abrir brecha para a revisão de pensões concedidas ao funcionalismo.
Ressaltou ainda que o modelo político de indicação para cargos de comissão não
se sustentará mais. “Não é mais questão de direito, não há mais dinheiro para
esses gastos”, disse.
PEC 4Caos total
A
Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) é contra a
aprovação da PEC 247. O secretário-geral da entidade, Sérgio Ronaldo da Silva,
diz que a medida representa um “caos total” já que limita qualquer inclusão nos
ganhos dos servidores. “O funcionalismo será o mais penalizado com essa
proposta”, completa.
PEC 4Destruição do setor
O
secretário-geral da Condsef ressalta que com a aprovação da proposta pelo
governo, não apenas o serviço público, mas a sociedade como um todo sairá
perdendo. “Será um caos para a sociedade como um todo também, pois não vão
ocorrer mais concursos públicos. Essa PEC está de fato destruindo o que ainda
resta do serviço público”, completa.
A Câmara dos Deputados
passou em
segunda votação nesta terça-feira a proposta
de emenda constitucional que cria uma teto para os gastos públicos, a PEC
241, que congela as despesas do Governo Federal, com cifras
corrigidas pela inflação, por até 20 anos. Com as contas no vermelho, o
presidente Michel Temer vê na medida, considerada
umas das maiores mudanças fiscais em décadas, uma saída para sinalizar a
contenção do rombo nas contas públicas e tentar superar a crise econômica. O
mecanismo enfrenta severas críticas da nova oposição, liderada pelo PT, pelo
PSOL e pelo PCdoB, mas também vindas de parte dos especialistas, que veem na
fórmula um freio no investimento em saúde e educação previstos na Constituição.
O texto da emenda, que precisa ser aprovado em mais duas votações no Senado,
também tem potencial para afetar a regra de reajuste do salário mínimo oficial.
Veja como foi a votação nesta segunda aqui.
Entenda o que é a proposta e suas principais consequências.
A PEC, a iniciativa para modificar a
Constituição proposta pelo Governo, tem como objetivo frear
a trajetória de crescimento dos gastos públicos e tenta equilibrar as
contas públicas. A ideia é fixar por até 20 anos, podendo ser revisado depois
dos primeiros dez anos, um limite para as despesas: será o gasto realizado no
ano anterior corrigido pela inflação (na prática, em termos reais - na
comparação do que o dinheiro é capaz de comprar em dado momento - fica
praticamente congelado). Se entrar em vigor em 2017, portanto, o Orçamento
disponível para gastos será o mesmo de 2016, acrescido da inflação daquele ano.
A medida irá valer para os três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário. Pela
proposta atual, os limites em saúde e educação só começarão a valer em 2018.
Por que o Governo diz que ela é necessária?
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
diz que "não há possibilidade de prosseguir economicamente no Brasil
gastando muito mais do que a sociedade pode pagar. Este não é um plano
meramente fiscal." Para a equipe econômica, mesmo sem atacar frontalmente
outros problemas crônicos das contas, como a Previdência, o mecanismo vai
ajudar "a recuperar a confiança do mercado, a gerar emprego e renda" ao
mesmo tempo em que conterá os gastos públicos, que estão crescendo ano a ano,
sem serem acompanhados pela arrecadação de impostos. Para uma parte dos
especialistas, pela primeira vez o Governo está atacando os gastos, e não
apenas pensando em aumentar as receitas. O Governo Temer não cogita, no
momento, lançar mão de outras estratégias, como aumento de impostos ou mesmo
uma reforma tributária, para ajudar a sanar o problema do aumento de gasto
público no tempo.
O que dizem os críticos da PEC?
Do ponto de vista de atacar o problema do
aumento anual dos gastos públicos, uma das principais críticas é que uma conta
importante ficou de fora do pacote de congelamento: os gastos com a Previdência. É
um segmento que abocanha
mais de 40% dos gastos públicos obrigatórios.
Logo, a PEC colocaria freios em pouco mais de 50% do Orçamento, enquanto que o
restante ficaria fora dos limites impostos - só a regra sobre o salário mínimo
tem consequências na questão da Previdência. A Fazenda afirmou de todo modo,
que a questão da Previdência será tratada de forma separada mais à frente.
"Se não aprovar mudanças na Previdência, um gasto que cresce acima da
inflação todos os anos, vai ter de cortar de outras áreas, como saúde e
educação", diz Márcio Holland, ex-secretário de política econômica da
Fazenda. "Nesse sentido, a PEC deixa para a sociedade, por meio do
Congresso, escolher com o que quer gastar", complementa. Há vários
especialistas que dizem que, na prática, o texto determina uma diminuição de investimento
em áreas como saúde e educação, para as quais há regras constitucionais. Os
críticos argumentam que, na melhor das hipóteses, o teto cria um horizonte de
tempo grande demais (ao menos dez anos) para tomar decisões sobre toda a forma
de gasto do Estado brasileiro, ainda mais para um Governo que chegou ao poder
sem ratificação de seu programa nas urnas. Eles dizem ainda que, mesmo que a
economia volte a crescer, o Estado já vai ter decidido congelar a aplicação de
recursos em setores considerados críticos e que já não atendem a população como
deveriam e muito menos no nível dos países desenvolvidos. Se a economia
crescer, e o teto seguir corrigido apenas de acordo com a inflação, na prática,
o investido nestas áreas vai ser menor em termos de porcentagem do PIB (toda a
riqueza produzida pelo país). O investimento em educação pública é tido como um
dos motores para diminuir a desigualdade brasileira.
Quando a PEC começa a valer?
Se aprovada na Câmara e no Senado, começa a
valer a partir de 2017. No caso das áreas de saúde e educação, as mudanças só
passariam a valer após 2018, quanto Temer não será mais o presidente.
Qual o impacto da PEC no salário mínimo?
A proposta também inclui um mecanismo que
pode levar ao congelamento do valor do salário mínimo, que seria reajustado
apenas segundo a inflação. O texto prevê que, se o Estado não cumprir o teto de
gastos da PEC, fica vetado a dar aumento acima da inflação com impacto nas
despesas obrigatórias. Como o salário mínimo está vinculado atualmente a
benefícios da Previdência, o aumento real ficaria proibido. O Governo tem dito
que na prática nada deve mudar até 2019, data formal em que fica valendo a
regra atual para o cálculo deste valor, soma a inflação à variação (percentual
de crescimento real) do PIB de dois anos antes. A
regra em vigor possibilitou aumento real (acima da inflação), um
fator que ajudou a reduzir o nível de desigualdade dos últimos anos.
O que acontece se a PEC for aprovada e o teto de gastos não for cumprido?
Alguma das sanções previstas no texto da PEC
para o não cumprimento dos limites inclui o veto à realização de concursos
públicos, à criação de novos cargos e à contratação de pessoal. Em outras
palavras, pretende ser uma trava muito mais ampla que a Lei de Responsabilidade
Fiscal, por exemplo, que cria um teto de gastos com pessoal (vários
Estados e outros entes a burlam atualmente).
A PEC do teto vale para os Estados também?
A PEC se aplicará apenas aos gastos do
Governo Federal. No entanto, a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula
Vescovi, já sinalizou que o Planalto deve encaminhar em breve uma segunda PEC
que limita os gastos estaduais. Por enquanto não há consenso entre o Executivo
Federal e os governadores sobre o assunto.
Quais impactos a PEC pode ter nas áreas de educação e saúde?
Os críticos afirmam que a PEC irá colocar limites em
gastos que historicamente crescem todos os anos em um ritmo acima da inflação,
como educação e saúde. Além disso, gastos com programas sociais também podem
ser afetados pelo congelamento. Segundo especialistas e entidades setoriais,
esta medida prejudicaria o alcance e a qualidade dos serviços públicos
oferecidos. Especialistas apontam problemas para cumprir mecanismos já em
vigor, como os investimentos do Plano Nacional de Educação. Aprovado em 2014, o
PNE tem metas de universalização da educação e cria um plano de carreira para professores
da rede pública, uma das categorias mais mal pagas do país. "A população
brasileira está envelhecendo. Deixar de investir na educação nos patamares
necessários, como identificados no PNE, nos vinte anos de vigência da emenda
proposta – tempo de dois PNEs -, é condenar as gerações que serão a população
economicamente ativa daqui vinte anos, a terem uma baixa qualificação",
disse o consultor legislativo da Câmara dos Deputados, Paulo Sena,ao site Anped, que reúne especialistas
em educação.
Já o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que
mais importante do que o valor despendido com áreas como saúde, educação e segurança, é a
qualidade desses gastos. "Dados da educação e da saúde hoje mostram que a
alocação de recursos não é o problema. É preciso melhorar a qualidade do
serviço prestado à população", disse. "Teremos muito trabalho. O
principal deles será o de mostrar que a saúde e educação não terão cortes, como
a oposição tenta fazer a população acreditar", afirmou a líder do Governo
no Congresso, a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES).
A PEC do teto atingirá de maneira igual ricos e pobres?
A população mais pobre, que depende do sistema público de
saúde e educação, tende a ser mais prejudicada com o
congelamento dos gastos do Governo do que as classes mais abastadas. A
Associação Brasileira de Saúde Pública, por exemplo, divulgou carta aberta
criticando a PEC. No documento a entidade afirma que a proposta pode sucatear o
Sistema Único de Saúde, utilizado principalmente pela população de baixa renda
que não dispõe de plano de saúde. Além disso, de acordo com o texto da proposta,
o reajuste do salário mínimo só poderá ser feito com base na inflação - e não
pela fórmula antiga que somava a inflação ao percentual de crescimento do PIB.
Isso atingirá diretamente o bolso de quem tem o seu ganho atrelado ao mínimo.
Por que a Procuradoria Geral da República diz que é inconstitucional?
Em nota técnica divulgada em 7 de outubro o órgão máximo
do Ministério Público Federal afirmou que a PEC é inconstitucional. De acordo
com o documento, "as alterações por ela pretendidas são flagrantemente
inconstitucionais, por ofenderem a independência e a autonomia dos Poderes
Legislativo e Judiciário e por ofenderem a autonomia do Ministério Público e
demais instituições constitucionais do Sistema de Justiça [...] e, por
consequência, o princípio constitucional da separação dos poderes, o que
justifica seu arquivamento". A crítica vem pela criação de regras de
gastos para os demais Poderes. Na nota, a procuradoria argumenta que, caso
aprovada, a PEC irá prejudicar a “atuação estatal no combate às demandas de que
necessita a sociedade, entre as quais: o combate à corrupção; o combate ao
crime; a atuação na tutela coletiva; e a defesa do interesse público". A
Secretaria de Comunicação Social da Presidência rebateu a PGR, afirmando que na
proposta não existe “qualquer tratamento discriminatório que possa configurar
violação ao princípio da separação dos poderes".
O que vem depois da PEC, se ela for aprovada tal como está?
A PEC é a prioridade da equipe econômica do Governo
Temer, que vai pressionar por outras reformas nos próximos meses, como a
Reforma da Previdência e Reforma Trabalhista.
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